quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Mulder

Há uns três meses, estou ensaiando atualizar o blogui com um conto mezzo ficcional, mezzo factual que se passa numa festa estranha com gente esquisita na Vila Madalena.

O saldo até aqui: de pouco a nenhum sucesso.

Dá para explicar didaticamente meu grande dilema em termos de estilo de vida usando a carreira de David Duchoviny.

Tenho esse ideal de ser um Hank Moody, o personagem de Californication, dos pobres, vivendo aos tropeços entre bares e hostels repletos de mulheres independentes, loucos e extravagantes - e abusando do recurso de buscar material em minha própria vida para contar as histórias que escrevo ébrio.

O que eu encaro no dia-a-dia, porém, pode ser resumido em problemas que passo metade do tempo sem saber como enfrentar e uma garota com ares esnobe que faz parte do imaginário masculino, mas eu olho de vez em quando e penso "nhé, normalzinha".
Tipo o Mulder, de Arquivo X.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Seminarista (Ou homenagem a Leila Lopes)

- Aê, moleque, chega mais que tô pra te pedi uma parada.
- Qualé, Cabelera? Tô atrasado para um compromisso e não quero encrenca.
- Ô o cara, vei. Tá cheio de frescurinha, tá pensando que é quem? O lance é o seguinte: meu parça, o Bujão, aqui do meu lado disse que tu faz o tipinho de escritor e tal. Quero vê se tu tem a manha, sacumé. Bola uma frase de efeito. E tem que ser coisa da boa, morou!
- Não sei se entendi.
- Tu é surdo, mané. Frase de efeito. Que nem o robozão do Exterminador do Futuro, tá ligado:  Astalavista, I will be back e umas paradas assim.
- Como eu te disse, Cabelera, estou atrasado.
-  Tu é destro ou canhoto? Quer saber, deixa para lá. Nóis quebra as duas mãos, só para garantir.
- “Sou seminarista”.
- Cuméquié? Que papo é esse. Quer que eu perca a paciência contigo, mermão? Tá me testando?

- [Respira fundo e senta] "Vamos lá. Balada rolando solta e a loirinha do rebolado matador esnoba a atenção de todos os homens para conversar com o amigo (e o único sujeito alheio àquele corpinho de deusa) num ponto isolado do bar.

- Cerveja, padre?
- Pri, porque sempre faz essa pergunta se eu não bebo? Achei que uma hora você cansaria da brincadeira.
- Não, ela é sempre engraçada, como da primeira vez.


- Quer saber, no fundo, padre, você sabe o que realmente me cansa.
- [desvia o olhar] Isso é uma Brahma, Pri? Você quer que eu abandone os meus principios por uma Brahma?

[bombadinho, que deve se chamar Jake, chega na truculência perguntando se "a mina" não tá afim de conhecer um homem de verdade]
- Quer saber, padreco, você fica fugindo que nem um covarde. Que Brahma, cara! A loira que tá sendo oferecida para você é quente e saborosa. E não finge que não tava olhando para minhas pernas agora. [olha pro mano da camisetinha regatinha] Aê, o do hormônio para cavalo. Tu tem pegada? Porque quero um homem que me pegue de jeito e é para agora!

Ele não tinha. Mas ela estava no limite da paciência, de maneira que foi com aquele sujeito mesmo. Sabe como é, se não tem tu, vai tu mesmo.
Se pegaram. Ela se mostrando para o amigo. A mensagem corporal era tu perdeu, cara. Perdeu e perdeu feio. Aí o bombadinho se enroscou todo  e, meio sem querer, puxou o vestido dela para cima até a calcinha, sabe? Ela lançou um olhar pro amigo de se fode aí e esse foi o limite dele.

[Puxa ela pelo braço esquerdo e lança um olhar penetrante] - Agora… Agora, você me ouve!
- Ouvir o quê? Essas tuas desculpinhas não colam comigo, padre.
- Padre é o caralho. Sou seminarista. Vem ver a diferença.
E os dois seguiram para o banheiro unissex do bar".